Meus 15 discos favoritos de 2023
Uma seleção do pop punk à música paraibana. E mais: Verde gás está na rua.
Um dos curiosos efeitos de recuperação pós-pandêmica no mundo das artes é o quão grande é a minha lista de bons discos que ouvi em 2023. Em alguns casos, produções que nasceram no conturbado período em que máscaras tomaram nossos rostos e isso não era uma metáfora — ou era? Listas grandes, entretanto, não trazem qualidade ou simpatia implícita. Aos interessados, sempre haverá um pouco de cada coisa: um nariz torcido aqui, uma agradável descoberta ali, um gostoso afago de pertencimento ao encontrar uma concordância acolá. Por isso, separei 5 álbuns que considero indispensáveis, já que os ouvi dezenas e dezenas de vezes, mas também outros títulos que ouvi algo entre umas poucas dezenas e algumas vezes, mas o suficiente para dizer “isso é massa” ao ouvir. Vamos lá.
SUFJAN STEVENS - JAVELIN
Meu disco favorito de 2023 já foi tema de um texto especial na newsletter, mas àquela altura, eu o ouvi o suficiente para amar, mas não o suficiente para já estar cantando junto. E por mais camadas existam em seu lirismo e nos arranjos maximalistas, Sufjan ainda é um grande artesão de melodias simples, com refrões tão marcantes quanto suas letras. O que ele faz aqui, entretanto, é um marco histórico: diante de um dos momentos mais tristes da sua vida, conseguiu unir o melhor dos elementos de toda sua obra.
PARAMORE - THIS IS WHY
Sinto saudade de uma banda específica chamada Mutemath. São raros os amigos que compartilham do sentimento, mas quem gosta sabe que ali estava algo bastante único, que era uma espécie de The Police tocando com Fall Out Boy num clube de jazz em New Orleans. Foi exatamente essa memória que se ativou quando ouvi o single "This is Why” pela primeira vez. Parecia muito com uma banda preferida, então o tiro foi certeiro. Nunca fui de ouvir Paramore e este foi o disco que mudou tudo. A cozinha no álbum está coisa de outro mundo, as composições estão mais maduras e todo o carisma de sua vocalista, Hayley Williams, chegou a um novo patamar. Parecem uma nova banda, pronta para chegar ao auge outra vez.
CITY AND COLOUR - THE LOVE STILL HELD ME NEAR
Dallas Green (“city” e “colour”, sacou?) é frequente nas minhas playlistas há uns bons dez anos. Mas não sou fã de toda sua discografia. Acontece que The Love Still Held Me Near surpreende do começo ao fim como um salto de qualidade, especialmente sonora, na carreira do cantor e compositor. Dallas, que também é membro da Alexisonfire, faz aqui um som folk rock, com guitarras bem presentes e os agudos marcantes de sua voz. Com canções que passam pelo luto e as frustrações religiosas que sempre percorreram sua carreira, o City and Colour mostra que ainda tem muito a entregar.
ELOISE - DRUNK ON A FLIGHT
Na intensa temporada de pop lo-fi que vivemos, conseguir se diferenciar um pouco já parece muita coisa. É o caso desta franco-britânica de 23 anos em seu álbum de estreia. Eloise já tinha um bom EP em seu histórico, mas a pouca idade deixa claro que a carreira está só começando. Tal qual outras tantas outras cantoras e compositoras desta geração, foi descoberta viralizando com um cover — de Bruno Major, dono de sonoridade que talvez ela mais reverencie. Na delicadeza do seu folk-jazzy-bedroom-pop, as orelhas levantam na intensidade de seus vocais, que evitam o clichê do cantar-sussurrado para deixar bem às claras as cartas de despedidas que são suas letras.
DEREK WEBB - THE JESUS HYPOTHESIS
O cantor do Tennessee tem uma carreira com histórico peculiar: por muitos anos, era figura central na banda de folk-cristão Caedmon’s Call. Deixou a banda em 2003, lançou discos solo ainda dentro desta prateleira religiosa, até que por volta de 2013, após ter entregado aos fãs algumas pérolas, resolveu deixar essa categorização de vez. Seus discos até podiam falar sobre fé, mas não o interessava estar mais neste círculo no sentido artístico. Podiam falar mais sobre o que sempre lhe interessou, como dramas sociais e de relacionamentos, com sua sonoridade folk rock. Acontece que em 2023 ele anuncia que seu novo disco voltaria a essa prateleira da música contemporânea cristã. O compositor, claro, não dá ponto sem nó: The Jesus Hypothesis não é só um de seus melhores, como também uma imensa provocação a dogmas teológicos da religiosidade evangélica, em especial sobre a inclusão da comunidade LGBTQPIA+.
Mais 5 discos imperdíveis:
QUEENS OF THE STONE AGE - IN TIMES NEW ROMAN...
Aquela coisa: fazer o feijão com arroz direitinho, de preferência sem ser um idiota agredindo fotógrafo em show, pode dar certo. E aqui deu muito certo.
FOO FIGHTERS - BUT HERE WE ARE
Falando em fazer o básico bem feito, o novo disco da turma de Dave Grohl supera ao anterior, volta ao patamar de Wasting Light (o último bom até então) e honra o nome de seu falecido baterista Taylor Hawkins.
THE NATIONAL - FIRST TWO PAGES OF FRANKENSTEIN
Não é de hoje que descubro e me apaixono tardiamente por bandas que sempre estiveram no meu radar, mas não dei a devida atenção ou não me cativaram na época. Há quem diga que o segundo disco lançado pelo The National em 2023 é que detém o título. Mas, para mim, o ouro está aqui, “nas primeiras páginas de Frankenstein”.
LAUFEY - BEWITCHED
Com um timbre inconfundível e composições originais, Laufey conquistou um público especialmente jovem com seu pop-anos-50 cheio de influências de jazz, bossa nova e música clássica. Atenção merecida.
NIALL HORAN - THE SHOW
Se você também confunde Jonas Brothers com One Direction, vem comigo. Nesse caso, Niall Horan, como o nome deixa claro, não é um Jonas e fez parte do segundo grupo. E tal qual seu colega de boy band, Harry Styles, tem personalidade musical e lançou um disco essencial para quem gosta de pop inglês. Se você aguentar não dançar ao som de “If you leave me”, por favor, melhore.
As 5 menções finais mais que honrosas:
UNKNOWN MORTAL ORCHETRA - V
O disco de sonoridade mais diferente que ouvi (e amei) no ano.
TIAGO ARRAIS - CANÇÕES DE AMOR
Aos poucos e despretensiosamente, Tiago Arrais vai se lançando cada vez mais no território que o leva a um lirismo único.
TOTONHO - CANÇÕES PRA MACHO CHORAR E ROER UNHAS
Cheguei atrasado pra carona na pampa enferrujada de Totonho, onde ele canta segurando uma garrafa de Pitu, enquanto rima melancolia com azia, mas cheguei, Totonho.
J. E. SUNDE - ALICE, GLORIA AND JON
O segundo disco mais diferente do ano (que eu tenha gostado) nas minhas audições. Uma coisa assim meio Paul Simon bebendo com Marc DeMarco?
OLIVIA RODRIGO - GUTS
Parece que a madame-não-mais-menina Olivia, enquanto “duplar” com seu produtor Dan Nigro, não vai errar muito não, viu?
Lançar Verde Gás tem sido, sem nem duvidar ao falar, uma das experiências mais incríveis da vida. Não por ser um sonho: nunca sonhei em ser escritor e lançar livros. Mas pela ideia de estar perto de pessoas por conta de uma história. Do compartilhar as mesmas perguntas e afetos estéticos. Foi tudo tão corrido que nem avisei por aqui, mas meu Instagram não parou e nem está perto de parar. Há várias galerias de fotos e vídeos que mostram um pouco de como tem sido. Segue abaixo a lista de como encontrar o livro presencialmente ou online.
VERDE GÁS já disponível:
Em João Pessoa:
- Livraria A União no Espaço Cultural
- Livraria Leitura Manaíra Shopping
- Livraria do Luiz Mag Shopping
- O Sebo Cultural no Centro
Online para todo Brasil:
- ComicHouse
- Editora O Grifo
É isso, gente. Com um listão desse, não dá pra soltar Top 5 junto. Na semana que vem (ou na primeira do novo ano), trago a lista de filmes e livros preferidos de 2023. E vocês? O que viram/ouviram/leram de mais legal?
Abraços,
Ricardo Oliveira