Os dramas de amadurecer na literatura e em 3 livros preferidos
E mais: novo disco de Olivia Dean; baterista do Megadeth tocando The Killers e outras aleatoriedades.
Sempre digo que filmes de coming of age, ou dramas de amadurecimento, estão entre os meus preferidos. Falo pouco dos livros porque, claro, tenho bem menos repertório. Essa semana, no entanto, decidi trazer para vocês três livros contemporâneos que considero ótimas obras para conhecer o gênero literário. Na arte da escrita, o mais comum é chamar essas histórias de “romances de formação”, já que o tempo literário permite gastar tempo especial rememorando mais que os recortes cinematográficos. Um bom exemplo de filme que tenha essa pegada de crescimento na vida é Boyhood, de Richard Linklater. Marcante em sua forma de produção, o filme conta não só a história de 12 anos na vida de um mesmo personagem, como levou de fato 12 anos sendo filmado com o mesmo ator, da infância aos 18 anos. Na literatura, este talvez seja um dos gêneros mais clássicos, numa história que se mistura com a própria construção do gênero romance. Passando por Charles Dickens, Jane Austen e Mark Twain, chegamos a modernos como J.D. Salinger (O Apanhador no Campo de Centeio) e a contemporâneos como Ian McEwan (Reparação) e Elena Ferrante (A Amiga Genial). Os três indicados aqui têm uma razão especial que revelo ao fim.
Mãos de Cavalo, Daniel Galera (2006)
Uma história de formação dura, cheia de pancadas e dramas intensos que misturam a juventude e a vida adulta de um cirurgião plástico em Porto Alegre. Daniel Galera faz um coming of age gaúcho com temas que se mostraram importantes à sua literatura posterior, como a culpa, a violência cotidiana e os dilemas de pertencimento. Seis anos antes de lançar seu sucesso Barba Ensopada de Sangue, o autor mostrava algo de mesmo nível. A obra foi adaptada para o cinema com o nome de Prova de Coragem.
Cancún, Miguel Del Castillo (2019)
A busca por um pai perdido é uma história comum na literatura brasileira, mas em Cancún foi a primeira vez que vi sendo contada na perspectiva de um personagem evangélico. Miguel Del Castillo traz um frescor muito próprio na escrita, gastando tempo na beleza desse drama de amadurecimento que também se divide entre dois tempos e dois lugares, Rio de Janeiro e Cancún no México. Na adolescência, o protagonista Joel se vê diante dos dilemas da puberdade dividido entre amigos da escola e a descoberta de um novo grupo na igreja. Na vida adulta, busca refazer os passos do pai na cidade mexicana.
Retalhos, Craig Thompson (2009)
Essa aqui é uma novela gráfica premiadíssima, levando inclusive dois Eisner — que é o maior prêmio da indústria. Craig Thompson faz uma autoficção da sua infância, adolescência e juventude como alguém que nasceu no miolo frio americano, um Winsconsin super cristão e conservador. É uma história de 2009, então anterior a esse mundo de cristianismo nacionalista que a gente viu despontar atualmente. Talvez por isso nos ajude a entender um pouco mais o mundo de hoje.
O que essas três obras têm em comum, além de serem ótimos dramas de amadurecimento? São três livros que me inspiraram na escrita do meu primeiro romance distópico chamado Verde Gás. Nele misturo o drama de amadurecimento com um apocalipse na minha cidade, João Pessoa, na Paraíba. O livro será publicado pela editora O Grifo e está em financiamento coletivo no Catarse. A obra será publicada mesmo se não atingir a meta, mas sua participação nesta fase tem três benefícios: (1) ajuda a editora a ter um termômetro prévio da obra; (2) tem recompensas de apoio exclusivos para esta etapa; (3) libera metas estendidas, podendo trazer presentes para apoiadores e recursos extras à obra. Apoie acessando catarse.me/verdegas.
No Rastro do Verde Gás: entrevistas e destaques na imprensa
1. Verde Gás no canal Formiga Elétrica do YouTube
2. Daniel Gruber, editor da Grifo, me entrevistou no Instagram da editora
3. Outra conversa legal rolou no Instagram Poesia de Segunda
4. No canal Fantasticursos, fui entrevistado pelo professor de literatura Alexander Meireles. No papo pude falar mais sobre distopias e as influências do cinema e literatura no meu livro.
5. Na coluna Clube do Livro da CBN Paraíba, o caríssimo Tiago Germano falou sobre sua leitura da obra e a campanha.
Na próxima semana participo de lives na quarta e quinta. Todas serão pelo Instagram, então é só me acompanhar por lá e ativar as notificações.
Top 5 aleatório da semana
1. Depois de alguns bons EPs, a britânica Olivia Dean lançou Messy, seu primeiro álbum de inéditas. O disco segue a linha do soul contemporâneo com um pé no bedroom pop, o que dialoga com nomes como Eloise, Aaron Taylor e Matilda Mann. A ótima faixa “The Hardest Part” tem uma versão ao vivo com Leon Bridges que pode ser uma porta de entrada para quem ainda não conhece a cantora.
2. Falando em bedroom pop, vale dar atenção aos discos de Lauren Spencer Smith (Mirror) e Gracie Abrams (Good Riddance), ambas com aquele clima algo entre Birdy e as baladas de Taylor Swift. Vasculhando essas prateleiras, acabei chegando em um disco de 2021 que merece o play: Already, Always da britânica Bess Atwell.
3. Na playlist de desafios para bateristas, o canal Drumeo trouxe Dirk Verbeuren, do Megadeth para tentar acertar a bateria de “Mr. Brightside” sem ouvir a faixa percussiva da canção. Spoiler: ele não “acerta”, mas o que ele faz é de cair o queixo.
4. Gastão e Massari, ex-VJs da MTV se reúnem para um programa contando o lado B da história da emissora. Claro, estamos falando da MTV Brasil de verdade, aquela que começou em 1990 e terminou em 2013. Está para sair, inclusive, um outro podcast de entrevistas com outros apresentadores da casa.
5. Barbie Barbie Barbie. Só se fala nisso, claro. Para quebrar um pouco o falatório sobre marketing, nostalgia, moda e polêmicas, que tal um pouco de cinema? A diretora Greta Gerwig fala sobre 29 filmes que a influenciaram para a produção do blockbuster. Entrevista ótima e super ilustrada.
A ideia dos próximos dias é assistir Oppenheimer e Barbie e não fazer nenhum conteúdo conectando os dois. E vocês?
Abraços,
Ricardo Oliveira