Sem mais desculpas, começo uma editora
Uma longa história de amor editorial que finalmente se concretiza.
Pouca gente sabe, porque realmente falo muito pouco sobre isso, mas meu primeiro trabalho foi editorial. Diagramava e editava revistas lá em 2007. Era um trabalho de empresa familiar e eu já estava quase no fim do curso de jornalismo. Tinha adorado editar e diagramar o Questão de Ordem (jornal da disciplina Laboratório de Jornalismo Impresso), a ponto de ter sido monitor da disciplina por dois semestres. Então eu tinha certa autonomia no meu estágio, o que me deu muita liberdade criativa, precisando chamar até amigos para trabalhar junto, revisando e diagramando. Tive que aprender a orçar, finalizar e cobrar as coisas de gráficas.
Isso também não é do nada. Exatamente por conta da mesma empresa familiar, design sempre esteve presente no meu uso do computador, aprendendo a mexer no Corel Draw pra fazer de camisetas da turma para os jogos internos ao visual do meu primeiro blog em 2000.
Hoje o mundo é outro. E por mais que eu também seja outro, muito daquele Ricardo reapareceu em 2020, quando pela primeira vez assumi um projeto editorial literário. Era o livro Quando a saudade me visita, do amigo Phelipe Caldas. Uma campanha de sucesso no Catarse, com 180% da meta atingida. A sementinha voltava. Mas foi em 2023 que tudo começou realmente a renascer, lançando Verde Gás, trabalhando com o mercado editorial e cada vez mais imerso em aprender mais sobre ele.
Decidi lançar a 2ª edição de Verde gás de forma independente e aí, sim, o bicho pegou. Foi a hora de retomar à rotina contatos e acertos com gráfica, demandas de itens colecionáveis, criar uma rede de parceiros de serviços, o doloroso processo de automarketing, presença em eventos e tudo mais.
Mas aí vem um ponto importante: no meu mundinho, afirmar “vou lançar uma editora” traz uma série de implicações que envolvem pretensões conceituais. Tais pretensões geralmente envolvem aspectos estéticos e de prateleira. Tipo uma editora que só lança X ou Y e que deseja dialogar com o nicho Z. Bom, eventualmente isso funciona. Mas o que é difícil de engolir para a grande maioria dos novos editores é que o que realmente sustenta a literatura brasileira é a não ficção. E mais: há uma literatura de não ficção bastante robusta que está fora do radar da Publishnews ou da Veja. Apesar dos maiores números estarem realmente juntos de quem está no top 3 das listas (de Café com Deus a Napoleon Hill), há uma vasta quantidade de títulos que não está na lista de bestsellers porque nem mesmo vai para as livrarias. Estou falando de títulos de influenciadores que, não raro, sustentam operações de clubes do livro e livrarias online próprias para manter um mercado bastante sustentável. Mas, divago.
A minha editora se chama Leevro. Ela já tinha nascido no lançamento de Verde Gás 2ª edição, mas não como tal. A proposta era se apresentar como uma produtora de arte e cultura que eventualmente edita livros. Na essência, é isso que continuaremos sendo. Mas se apresentar como editora para o mercado é mais prático. A diferença dos bastidores, entretanto, é muito grande.
A Leevro oferece a seus autores a possibilidade de produzir e apresentar conteúdos para além da página. Uma grande reportagem pode ter valiosos depoimentos em áudio. Uma narrativa ficcional de horror talvez esconda uma incrível pesquisa sobre anatomia. Um livro de crônicas, quem sabe, pode ter uma forte relação com um álbum de família. Essas coisas podem ou não se transformar em conteúdos extras. Podem, inclusive, ser outros conteúdos (não apenas adicionais e opcionais).
A literatura, claro, não precisa disso. Mas quem disse que não pode haver um espaço para quem deseja isso? Às vezes, pode acontecer de forma involuntária e se abraça uma oportunidade. E foi exatamente isso que aconteceu comigo.
Uma oportunidade ao redor de uma ótima obra estava me orbitando há um tempo. E aí que o prazo para lançar essa obra estava passando, então decidi abraçar a chance. Exatamente assim nasce o segundo lançamento da Leevro.
O menino que queria jogar futebol (de Phelipe Caldas) é uma obra de jornalismo literário que conta a história de Gabriel Varandas, uma criança que sonhava em ser jogador profissional, mas um dia teve sua vida paralisada por um tumor no cérebro. Torcedor fanático do Fluminense e filho de pais católicos devotos, o garoto se apegou à fé e ao futebol para superar os surpreendentes e dolorosos desafios que envolveram sua recuperação.
Acontece que certo dia, em 2020, um diretor de cinema mandou uma mensagem para Phelipe interessado em adquirir os direitos de adaptação da obra. O resto é história: dia 7 de novembro chega aos cinemas Inexplicável, o filme inspirado no livro sobre Gabriel. Fabrício Bittar dirige um elenco de peso com nomes como Letícia Spiller, Eriberto Leão e André Ramiro. Uma dessas fitas de pegada emocional intensa, passando pelos intensos dilemas da medicina e da fé que envolvem a história.
Preparamos então uma segunda edição especial, com a identidade do filme na capa e miolo ilustrado com imagens de Inexplicável e do acervo da família Varandas. Ela está em pré-venda e se você gosta de histórias reais e emocionantes, clique aqui para conhecer e adquirir seu exemplar com desconto especial e frete grátis.
Bom, é isso. Estou lançando uma editora. Sem pompa, evento de lançamento, planejamento estratégico e afins. Fazendo a versão “produto mínimo viável” nesse mercado confuso, mas que para mim é extremamente promissor — pode ter certeza que não estou aqui só pela beleza de editar e publicar livros.
Sem mais desculpas, porém, é uma declaração engraçada. Eu poderia não fazer isso e seguir. Acontece que eu simplesmente não consigo. Cuidar de um livro, para mim, é mais que apenas o escrever ou diagramar. É pensar a experiência de leitura, as múltiplas formas de vivenciá-la: do toque do papel ao vídeo no Instagram.
Vamos lá, então.
Abraços,
Ricardo Oliveira
Sucesso Ricardo!
Gostei do logo e da frase:
"Narrativas para além da pagina."
Go, Ricardo, Go!
Muito bacana! Parabéns, meu caro. Abraços.