Como Paul Auster me ensinou sobre metalinguagem e cinema
Autor morreu na última terça, 30 de abril. Mais: top 5 aleatório da semana.
Partiu o autor americano Paul Auster, autor de obras como A Invenção da Solidão, 4 3 2 1 e A Trilogia de Nova York, seu título mais famoso. Foi com a trilogia o meu primeiro contato com o autor. Deve ter sido pelos idos de 2005 ou 06, durante o curso de jornalismo, que esbarrei com a obra na Biblioteca Central da UFPB.
Auster me apresentou a metalinguagem que me fascinaria dali para frente. A mesma que eu tinha "entendido" porcamente em filmes como Adaptação (2002) e Oito e Meio (1963). As três novelas que formam a Trilogia de Nova York são conectadas. Personagens que são duplos de si e do próprio autor, misturando diferentes pontos de vista, modos de narrar e jogar com essa dinâmica de molduras narrativas e histórias dentro de histórias: um escritor de mistério recebe uma ligação por engano de alguém que o confunde com um detetive chamado Paul Auster. O escritor decide entrar na pele do tal detetive e aí já viu.
Alguns anos depois, passeando pela (agora antiga) Livraria Saraiva no Manaíra Shopping, encontrei um lançamento de Auster: Homem no Escuro, uma história sobre um aposentado que cria em sua cabeça um enredo sobre uma América do Norte distópica e pós-apocalíptica enquanto vive os dias vendo filmes com sua neta. Nestas sessões em casa, o personagem nos apresenta a sua "teoria dos objetos inanimados" sobre os filmes. A ideia de que em alguns filmes há objetos decisivos para a trama. É o caso do relógio em "Era uma vez em Tóquio", elemento que representa não só o afeto entre personagens, mas a própria transformação do Japão pós-guerra. Seguindo os passos da sua teoria, escrevi vários posts analisando filmes no meu blog Diversitá.
Não sou grande conhecedor da sua obra, de fato, mas também não são tantos autores que li uns três livros. Sou um fã que lê pouco e devagar. E também alguém com curiosidade alta e pouca paciência (ou capacidade de concentração) para obras muito herméticas. No obituário do New York Times, algo dele segue dialogando comigo: Auster preferia a ficção de Emily Brontë à filosofia de Jean Baudrilliard (simulacros!). Te entendo Auster, estou no time que considera O Morro dos Ventos Uivantes uma das grandes obras sobre a existência humana.
Top 5 aleatório da semana
1. Depois dos canais de construção de cabanas na floresta, o YouTube começou a me indicar os de sobrevivência em ilhas e praias desertas. Atualmente, esse aqui que é de um casal vivendo por alguns meses no mar e descobrindo crocodilos gigantes que saem das águas doces para salgadas.
2. Usar inteligência artificial generativa para musicar diálogos absurdos de WhatsApp é algo que tem rendido umas gargalhadas por aqui.
3. Ricardo Coimbra, um dos meus quadrinistas de cotidiano preferidos, demonstra a “lógica” da liberdade de expressão irrestrita da mente liberal e/ou de extrema direita.
4. A vida de Sufjan Stevens é um musical da Broadway, sob o prisma do álbum Illinoise. O espetáculo carrega muitos elogios e indicações ao Tony.
5. O verão americano, sempre com muitas estreias de cinema, será a temporada que teremos um aguardado nepoduo cinematográfico: M Night Shyamalan apresenta seu novo longa, Trap; Ishy Night, sua filha que também é diretora, estreia em longas com The Watchers.
rip auster 🖤